CONTOS

IMAGEM PESSOAL.


 

 NEFASTO DESTINO

         
         Não podia acreditar no que acabara de ler. Depois de seis anos de união, tanta luta e conquistas. E tudo acabado, e mal explicado, em um simples pedaço de papel!

         De repente mais nada fazia sentido. Sua mente esvaziou-se, apenas sentia as batidas de seu acelerado coração que persistia em querer deixar o peito. - Mas também ouviu um choro estridente! E como que sacolejado seu corpo, lembrou-se do inocente fruto daquele amor. Ausentando-se de seu transe, correu ao seu encontro. Ela estava ali no berço, para seu alivio, não havia ido embora. A carregou no colo sentando-se em uma poltrona próxima. Acalentando aquele ser frágil com somente um ano de nascida. Como se a visse pela primeira vez. Não pôde evitar o pensamento:

_ Meu Deus, como é parecida com a mãe! Eu jamais a abandonarei. Seremos felizes. Apenas nós dois.

          Longos vinte e três anos passaram-se. Muita coisa se modificou; - Mudaram de cidade. Josué cresceu profissionalmente. E a pequenina Luiza, tornou-se uma linda e inteligente moça.

_ Pai, o que você acha de eu e Erich oficializarmos nosso noivado no próximo final de semana?

_ Não seria de bom tom, num acontecimento como esse, tão importante na vida de Erich. Não contar com a presença da mãe. Afinal, apesar de separada de seu pai e morar em outra cidade. Sei que não perde uma oportunidade de participar da vida do filho. Não é melhor esperar mais um pouco?


_ Não se preocupe com isso. Ela virá passar uma temporada aqui. Chegará na próxima sexta e poderíamos fazer um jantar no sábado.

_ Hummm. Sendo assim, nada impede vocês de marcarem a data do casamento. Sei que se amam. E Erich já está encaminhado profissionalmente nos negócios do pai. Nesse ano termina a faculdade. Mas você também tem que terminar a sua no ano que vem.

_ Claro pai. Acompanharei meu marido até nos negócios.

          E beijando-lhe a face. Agradeceu pela compreensão.

         O jantar foi feito com esmero para receber os convidados. Luiza mal cabia em si de tanta felicidade.

        Às dezenove horas em ponto, soa a campainha da porta. Uma funcionária foi abrir.

        Primeiro Josué corresponde ao imenso sorriso de Erich que lhe estende logo a mão. Em seguida. Um frio lhe percorre a espinha, revivendo funesta sensação de vinte e três anos atrás. Ao cruzar, com o conhecido, marejado e desesperador, olhar da mulher que acompanha o pai do noivo!


Mônica Pamplona.
24/06/12







O BOTO

         Esse episódio aconteceu numa fazenda que se localizava em Soure, uma das ilhas que complementa o arquipélago do Marajó.

       As identidades dos personagens são fictícias. Qualquer semelhança com o enredo é mera coincidência.
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        Aproximadamente na década de sessenta. Quando a energia elétrica ainda nem sonhava em estabelecer-se por lá. Saneamento, coleta de lixo,... Nem pensar. As ruas eram de terra batida, mato por toda parte e os veículos mais utilizados eram o búfalo e o cavalo... Enfim, um lugar bastante primitivo que sobrevivia da carne bovina que vinham das fazendas, distantes uma das outras, e da pesca muito rica.

       Na cozinha todas estavam a comentar sobre os últimos acontecimentos que vinham ocorrendo naquela região.

      Dona Carmita, a cozinheira, comentava:

__Dizem que ele só ataca quem não é temente a Deus!

__Quem dera... Por causa, se fosse assim, não sentaria a mão na cara de seu Tobias que todo domingo comunga na igreja. – Retrucou a ajudante.

__Nossa! Então esse tarado ataca homem também?!

    E antes que a outra respondesse. A patroa, que ia chegando, para ver os preparativos do almoço. Foi logo falando:

__Parece que ele fica naquele caminho que dá pra praia do Pesqueiro. E quando é noite de lua cheia, depois da meia noite, sai por de trás de uma mangueira e dá-lhe uma bofetada na cara de qualquer um que passe por lá.

      Enquanto falava, Chico, um  peão cria da fazenda. Homem já de seus trinta anos, que era "pau pra toda obra", com seu físico típico de caboclo da ilha. Seus 1,78m de altura, músculos bem definidos e uma cara de poucos amigos. Tinha fama de beberrão e arruaceiro, porém bastante responsável. Foi chegando pela porta do quintal e ainda ouviu o comentário de dona Lia, do qual afirmou:

__Pois hoje, a noite é de lua cheia. E eu vou passar por aquela porqueira daquela árvore à meia noite, e quero ver se vai ter cabra macho pra meter a mão na minha cara!

        As três entre - olharam-se meio preocupadas com aquele comentário. Mas só d.Lia o aconselhou;

__Deixa de bobagem rapaz. Ele pode ser um assassino perigoso e...

__Não se avexe não madinha. Tá vendo aqui a Severa?

       Chico tirou uma faca de açougueiro que ficava numa capa atrelada a um cinto em sua cintura.

      E continuou:

__Quero que esse tarado duma égua venha pra cima de mim. Aí eu apresento a Severa. Ele vai ver com quantos furos se faz um tauba de pirulito!

      D.Lia, conhecendo bem o temperamento do peão, ainda tentou persuadi-lo ao contrário.

__Esquece isso Chico. Pensa na tua mãe que não pode ter mais aborrecimento.

__Deixa tá madinha. Eu sei o que tô fazendo.

     E dito isso, voltou para o quintal, deixando as três pensativas.

      O resto do dia transcorreu normal.

      Mas foi na manhã do dia seguinte. Por volta das onze horas. Que o delegado chegou à fazenda perguntando por Chico.

      D.Lia, intrigada com a visita, quis saber do que se tratava:

__É que amanheceu uma poça de sangue no caminho onde o tarado ataca. E como ele vinha ameaçando furar o safado. Quero lhe fazer umas perguntinhas.

      Diante de tal circunstância, d.Lia não teve outra opção senão chamar o peão.

      Quando este chegou. Após ouvir o relato do delegado. Afirmou:

__É, vossa otoridade. Fui eu sim.
__Passei pelo caminho, na frente da mangueira à meia noite. Quando o miseraver deu uma baita remada na minha cara. E o senhor sabe né; Macho que é macho não leva desaforo pra casa! Não leva não senhor.

        E tirando a faca da bainha entregou ao delegado, continuando sua confissão:

__Ai, eu já tava mermo com a Severa na mão, só fiz enfiar no bucho dele, ai ele saiu correndo feito bicho doido. Agora, se vos mecê quisé me prender, pode me levar. Mas fique sabendo que não me arrependo de nadinha, não.

          Levaram Chico para averiguação.

          Chegaram ao local do atentado e seguiram um rastro de sangue que ia até a praia do Pesqueiro, próximo à uma canoa emborcada. Quando desviraram a embarcação; Qual não foi a surpresa? O que encontraram foi um boto morto, ferido à faca!!

        A perícia foi feita lá mesmo. (!!!)

        O delegado pôs a Severa na abertura da sangria do animal.

       Fim do mistério.

      A faca coube milimétricamente na ferida.
Chico ainda arriscou e disse (entre meio sorriso).

__É vossa otoridade, acho que não matei gente não. E se matei um boto, então não é crime, foi só pesca.

Mônica Pamplona.
28/03/2010




                                          

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